Internet das coisas: estimando impactos na economia | Artigo
Ainda em estágio inicial de implantação no mundo, especialistas preveem que a internet das coisas – internet of things (IoT) –, ou a conexão em rede de objetos físicos, terá grande impacto em diversos setores e contextos. Algumas possíveis decorrências são: cidades mais inteligentes, racionalização e flexibilização da produção, logística e transporte de bens, monitoramento remoto de pacientes, melhor uso de insumos para o agronegócio, melhora da eficiência energética e ampliação do acesso a serviços do setor financeiro.
Com a tendência de se espalhar por praticamente todos os setores da economia, a IoT é posicionada como uma das maiores tendências tecnológicas do setor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
A consultoria McKinsey estima que em 2025 a IoT deve gerar, em nível mundial, receitas entre U$ 3,9 trilhões e US$ 11,1 trilhões, contribuindo com até 11% do PIB global. O número de dispositivos conectados à internet irá saltar de cerca de 10 bilhões em 2015 para 34 bilhões até 2020, quando a população no planeta será de 7,6 bilhões – resultando em uma média superior a quatro dispositivos por pessoa, de acordo com a consultoria BI Intelligence.
Outro estudo, elaborado pela Cisco (PDF), aponta ainda que a IoT poderá gerar para os governos no mundo todo ganhos superiores a US$ 4 trilhões até 2022, considerando economias de custos e novas receitas. Na estimativa dos maiores ganhos potenciais por país, o Brasil aparece no 9º lugar com um potencial estimado em US$ 70 bilhões até 2022.
As bases para aceleração da aplicação em massa desse conceito, que proporcionará inúmeras oportunidades para a economia e a sociedade brasileiras, estão na conjunção de fatores como: dispositivos eletrônicos mais rápidos, eficientes, menores e baratos; redes ubíquas de telecomunicações; e sistemas avançados de armazenamento e processamento de dados.
Trata-se de uma tendência que irá muito além do universo tradicional de TICs, com impacto em quase todos os setores da economia. Algumas aplicações terão profundo impacto na produtividade das empresas; ao mesmo tempo, serviços poderão ser melhorados de forma significativa.
Carros, eletrodomésticos, máquinas agrícolas, monitores cardíacos, entre outras dezenas de bilhões de dispositivos estarão ligados à internet ou a redes dedicadas, colhendo dados, gerando informações e permitindo a comunicação inteligente e mesmo autônoma entre dispositivos. Diversas aplicações podem ser usadas como exemplo: correção do nível de irrigação de colheitas, direcionamento dos aerogeradores em função das condições climáticas, acompanhamento e atuação sobre possíveis problemas de saúde, localização de vagas de estacionamento para carros ou automação da reposição de estoque.
Há, porém, também uma série de desafios para sua implantação da tecnologia: a segurança dos dados e dos sistemas; a interoperabilidade entre os próprios aparelhos conectados, e entre eles e os sistemas de TI; o alto volume de dados em trânsito; a vulnerabilidade do emprego em serviços repetitivos de baixo valor agregado; os gastos de energia; entre outros.
Dado o estágio inicial de desenvolvimento e o potencial de externalidades para economia e bem estar, diversas regiões e países estão tratando esse tema estrategicamente.
Para organizar as discussões, apoiar a pesquisa e inovação em IoT e estabelecer políticas de padronização, a União Europeia lançou em 2015 a The Alliance for Internet of Things Innovation (AIoTI). O Reino Unido segue caminho semelhante, com o governo liderando o processo com iniciativas como a Digital Catapult, focada em acelerar a entrada de novas ideias digitais que gerem serviços, produtos, empregos e valor para o país.
Como o Brasil pode capitalizar essa mudança tecnológica a fim de gerar valor agregado localmente e ganhos de produtividade?
O mercado de bens de TIC no Brasil é relevante em termos mundiais, tendo movimentado US$ 158 bilhões em 2014, ocupando o posto de 5o maior do mundo de acordo com a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) e a International Data Corporation (IDC). Representa cerca de 9,1% do PIB e, nas perspectivas da Brasscom, até 2022, essa representatividade se expandirá para 10,7%. No mesmo período, a força laboral deve passar dos atuais 1,5 milhão para 3 milhões de profissionais de TIC.
É notório que o advento da IoT impulsionará o setor ao demandar uma ampla gama de semicondutores (chips, sensores etc.), equipamentos eletrônicos, softwares, serviços de TI e serviços de rede de comunicação. Nesse cenário, abrem-se diversas oportunidades para empresas instaladas no Brasil, surgimento de novas empresas e atração de multinacionais interessadas em desenvolver soluções adequadas ao contexto brasileiro ou desenvolver bens e serviços globais a partir do país.
Também é de se destacar que o impacto de IoT irá transbordar em muito as fronteiras dessa indústria, podendo alterar o panorama de diversos setores da economia, além de criar novos desafios para o setor de TIC.
No Brasil, há diversos fóruns e esforços para discutir e entender o tema, como a Câmara de Gestão e Acompanhamento do Desenvolvimento de Sistemas de Comunicação Máquina a Máquina (Câmara M2M), o Fórum Brasileiro IoT, o GT Interministerial de Cidades Inteligentes, entre outros.
Em dezembro de 2016, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTIC, após processo de seleção pública, o BNDES contratou estudo técnico para definir um plano de ação para o Brasil em IoT.
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