Paracanoagem transforma vida de atletas com deficiência
Entrevista realizada em 04.04.2014
Paraplégico desde que fraturou a coluna em um acidente de carro, ocorrido em 2009, Fernando Fernandes descobriu a canoagem no centro de reabilitação do Hospital Sarah Kubitschek. “Vi que era um esporte diferenciado, que proporcionava prazer, autoestima, liberdade, sensação de capacidade. Dali em diante, resolvi cair de cabeça na canoagem, que ali seria minha vida”, disse.
Segundo Fernando, o caiaque lhe deu a possibilidade de estar “de igual para igual” com as outras pessoas. “Além do crescimento como para-atleta, eu sabia que ia conquistar as coisas, porque eu estava muito a fim. Vi que poderia criar formas de viver a vida e fazer coisas que, de outra forma, eu não poderia fazer, como pegar onda – pego onda de caiaque –, fazer travessias em alto mar, tudo isso”, argumentou.
Quando Fernando deu suas primeiras remadas, a paracanoagem brasileira tinha cinco atletas. Hoje há pelo menos 80 paracanoístas competindo, mas o número total de praticantes da modalidade é maior. “Esse crescimento é fundamental para o esporte”, afirmou o atelta, que testemunhou o progresso proporcionado pelo apoio do Banco. “A estrutura vem melhorando a cada ano”, garantiu.
O tetracampeão vê grandes possibilidades de medalhas para a paracanoagem brasileira nos Jogos Paraolímpicos do Rio. “Temos atletas fortíssimos, como o Caio [Ribeiro, primeiro brasileiro campeão mundial na canoa] e o Luís [Carlos Cardoso, vice-campeão mundial]. Agora é uma questão de continuar trabalhando, fazendo o que está sendo feito, para colher os frutos em 2016”, disse.
O ex-dançarino profissional de forró Luís Carlos Cardoso ficou paraplégico no final de 2009, quando um parasita se alojou em sua medula. “A paracanoagem surgiu na minha vida em 2011, quando soube, por meio dos meus fisioterapeutas, que poderia me proporcionar mais equilíbrio e mais força de tronco”, contou.
Por intermédio da fisioterapeuta Regina, esposa do ex-canoísta Sebastian Cuattrin, Luís Carlos conheceu Fernando e o técnico Paulo Barbosa, que na época treinava em São Bernardo. Após os primeiros exercícios, Luís viu Fernando remando e decidiu: “É aquilo que quero para a minha vida”.
Em dezembro de 2011, disputou seu primeiro brasileiro, conquistando bronze no caiaque e prata na canoa, resultado que lhe classificou para o Panamericano, disputado meses depois. “Foi outro início: comecei a treinar com novo treinador, Akos Angyal, iniciando minha trajetória na canoa, onde estou até hoje”, disse.
O foco de Luís é buscar títulos inéditos, na Copa do Mundo, em maio, e logo depois no Mundial. “Sou vice-campeão mundial, mas quero chegar ao topo. E por que não, em 2016, subir ao lugar mais alto do pódio?”, almejou.
O piauiense assegurou que a diferença da canoa de paracanoagem para uma canoa para atletas sem deficiência é mínima. “Não usamos o leme por não termos o movimento das pernas. As canoas para atletas sem deficiência podem ter leme ou não. Já no caiaque, os andantes usam o leme e os cadeirantes não. O resto é tudo igual”, garantiu.
Para Luís, o apoio do Banco é fundamental. “Um atleta não se faz só com talento. Ele precisa de um fator externo para lapidar esse talento. É onde o BNDES entra, com a estrutura, nos fornecendo bons treinadores. Esse apoio faz com que possamos evoluir cada vez mais e chegar bem preparados aos campeonatos”, afirmou.
O atleta dá um recado a pessoas que adquiriram algum tipo de deficiência. “Não adianta olhar para trás, porque você não poderá modificar o passado e, se ficar preso a ele, não construirá seu futuro, por isso é sempre bom olhar para frente, vencer isso de alguma forma e ter certeza que a vida continua”, aconselhou.
Para as pessoas que nasceram com deficiência, ele propõe que também tentem buscar no esporte uma forma de superação. “Esporte é superação. Existem vários tipos de esporte para qualquer tipo de deficiência. Basta você encontrar aquele ao qual conseguirá se adaptar”, sugeriu.