Fertilizantes organominerais: alternativa para o agronegócio brasileiro
O setor de fertilizantes (adubos) é de grande importância para Brasil, sobretudo em função da relevância que o agronegócio tem na economia brasileira. A demanda por macronutrientes primários vem crescendo a taxas médias superiores a 5% nos últimos dez anos, à exceção de 2015, quando a demanda retraiu-se 10%. O país tem deficiências estruturais – uma vez que não dispõe de minas significativas para produção de fósforo e potássio – que o impedem de produzir os principais nutrientes de forma a atender adequadamente a sua demanda, que hoje é a quarta maior do planeta. Como a produtividade agrícola é diretamente proporcional ao uso de fertilizantes, o dinamismo do agronegócio gera forte pressão demandante por nutrientes, levando a uma situação de exposição do país às flutuações de fornecimento e preços internacionais.
A fim de minimizar essa exposição, o setor de fertilizantes organominerais surge como alternativa competitiva de fornecimento ao agronegócio de parte da matéria orgânica e dos nutrientes necessários à adequada correção do solo e à nutrição das plantas. Os resíduos gerados no processo produtivo dos setores sucroalcooleiro, suínos e aves teriam o potencial para fornecer, aproximadamente, 14% da demanda por fertilizantes N, P e K, em relação à demanda de 2015, levando-se em conta a melhoria propiciada pela presença de matéria orgânica com os nutrientes. Ao se converterem esses nutrientes nos produtos comercializados com os agricultores, estimou-se que o mercado potencial para esses resíduos era de US$ 1,1 bilhão em 2015. Considerando o setor bovino, o qual apresenta desafios logísticos mais complexos, poder-se-ia atingir patamar de oferta de nutrientes de 53% da demanda por macronutrientes em 2015.
Entraves para a utilização dos fertilizantes organominerais
Entretanto, para o aproveitamento desse potencial é necessária a superação dos gargalos atuais. Atualmente, os processos empregados nessa conversão exigem um tempo elevado, o que acarreta na necessidade de se manter o material em amplas áreas até sua correta estabilização. Existem, portanto, limitações tecnológicas para correta e eficiente conversão dos resíduos em fertilizantes, demandando o desenvolvimento de novas maneiras de converter o resíduo em fertilizantes em um tempo reduzido. Outra limitação, em especial para o aproveitamento dos resíduos provenientes do setor de bovinos de corte, é em função do tratamento logístico dos resíduos, uma vez que existem restrições regulatórias e ambientais para transporte de resíduos, bem como em função de sua composição, que é, preponderantemente, água.
São necessárias mais pesquisas para a superação desses gargalos tecnológicos, envolvendo institutos de pesquisa como a Embrapa, que tem iniciativas como a Rede BiogásFert, entre outras que buscam criar novas tecnologias de conversão dos rejeitos em fertilizantes. Paralelamente, incentivos que estimulem a utilização dos fertilizantes organominerais e que reduzam os custos de implantação ou desenvolvimento poderiam ser indutores tecnológicos, na medida em que diminuiriam os custos e incertezas do desenvolvimento das tecnologias necessárias.
A complexidade para a superação do gargalo logístico é maior e exigirá, provavelmente, esforços para aproveitamento dos nutrientes provenientes daquelas culturas com cultivo, processamento ou criação mais concentradas, como os setores sucroalcooleiro, de suinocultura ou de avicultura. Por sua concentração produtiva natural, os rejeitos gerados na produção desses setores, uma vez transformados em fertilizantes, poderiam suprir demandas produtivas que tenham o próprio setor como mercado de destino. Os fertilizantes gerados utilizando vinhaça como insumo poderiam se destinar ao plantio da cana-de-açúcar, ou os fertilizantes gerados a partir dos rejeitos da avicultura poderiam ser destinados à adubação das culturas de milho, que, por sua vez, têm o setor avicultor como um de seus principais consumidores.
Além dos benefícios econômicos, a possibilidade de gerar insumos por meio de rejeitos do agronegócio brasileiro, que é um dos mais competitivos mundialmente, permitiria reduzir os impactos ambientais derivados da destinação incorreta dos resíduos, dar uma característica circular ao agronegócio reduzindo emissões de carbono ao longo de toda sua cadeia produtiva e aperfeiçoar a utilização dos recursos naturais escassos.
Esse é um trecho do artigo Fertilizantes organominerais de resíduos do agronegócio: avaliação do potencial econômico brasileiro, publicado no BNDES Setorial 45. Você pode baixar esse e os demais artigos em versão digital (PDF) na página da publicação.