Transporte Público Coletivo (TPC): os diferentes sistemas e suas características
A mobilidade nas cidades brasileiras de médio e grande porte tem se caracterizado pela utilização cada vez mais ineficiente do espaço público em decorrência do aumento do uso do transporte individual motorizado – os automóveis e as motocicletas – e da redução da participação do transporte público coletivo (TPC). Como resultado, ocorrem o aumento do congestionamento do tráfego, da emissão de gases poluentes e do efeito estufa, do número de acidentes de trânsito, dos custos dos transportes e a incapacidade de atender satisfatoriamente as necessidades de locomoção da população.
Dados do Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP, referentes a 2014, apontam nesta direção. Os custos dos acidentes de trânsito e da poluição foram estimados em R$ 26,1 bilhões para as cidades com mais de 60 mil habitantes. Apenas 20% desses custos estavam relacionados com os sistemas de transporte coletivo, enquanto 80% deles, com o transporte individual motorizado.
Nesse contexto, é necessário repensar o modelo vigente dando maior prioridade ao transporte não motorizado e ao TPC, promovendo a qualidade dos serviços e desestimulando o uso do transporte individual motorizado.
Desde a década de 60, diferentes ações governamen¬tais têm sido implementadas com este objetivo e, mais recentemente, além de atuar na promoção da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), consolidada pela Lei 12.587/2012, o Governo Federal tem desen¬volvido material de apoio técnico e financiado infraestrutura de mobilidade urbana através do BNDES e Ministério das Cidades.
O Guia TPC – Orientações para seleção de tecnologias e implementação de projetos de transporte público coletivo tem como objetivo geral apoiar a escolha e a implementação de sistemas de TPC, a fim de evitar que essas ações sejam realizadas sem considerar informações essenciais, o que coloca em risco o sucesso do projeto.
Conceitos básicos de redes de TPC
Geralmente as redes de TPC são compostas por linhas estruturais e alimentadoras, onde as linhas estruturais (principais ou troncais) são receptoras da demanda captada pelas linhas de acessibilidade aos bairros (linhas alimentadoras). Forma-se, então, um sistema tronco-alimentado, conceito de redes de TPC que podem ser baseadas apenas em ônibus ou também incluir sistemas sobre trilhos (integração intermodal).
A alimentação realizada com veículos de menor capacidade e a troncalização realizada com sistemas de maior capacidade (baseados em ônibus ou trilhos) permitem o aumento dos índices de ocupação veicular, isto é, a ocupação mais próxima à capacidade dos veículos, proporcionando racionalidade, com ganhos de economia de escala, e gerando menor custo por passageiro transportado.
Os projetos integrados em sistemas tronco-alimentados proporcionam benefícios à sociedade em diversos aspectos, tais como:
- redução do tempo de viagem dos usuário;
- redução do número de veículos em circulação;
- redução dos custos de manutenção do sistema viário;
- eliminação de viagens ociosas;
- aumento da oferta de ligações transversais e interbairros;
- redução da incidência tarifária para os usuários que atualmente têm que utilizar mais de uma linha sem integração;
- maior confiabilidade, melhor desempenho operacional e mais rapidez;
- redução do consumo de combustíveis;
- melhorias em termos ambientais; e
- melhor circulação nos centros de cidade e nos corredores.
A integração também é necessária entre o sistema de transporte e o ambiente urbano. Tratamento de calçadas, projetos de macro e de microacessibilidade, ciclovias, paisagismo, iluminação, sinalização, mobiliário urbano, estacionamentos, dispositivos facilitadores de integração, dispositivos para moderação do tráfego (traffic calming), entre outros, integram os projetos de inserção urbana.
Os diferentes sistemas e suas características principais
Levando em consideração os sistemas de TPC mais adotados e já consolidados no Brasil, é possível dividi-los em três grupos: (I) sistemas por ônibus; (II) sistemas sobre trilhos (metroferroviários); e (III) outros sistemas aplicáveis a casos específicos (Barcas, Teleférico e Aeromóvel). Abaixo, são destacadas as principais características de cada um deles.
SISTEMAS DE TPC POR ÔNIBUS
Consolidados em diversas cidades brasileiras, tais sistemas atendem amplas faixas de demanda, apresentam menores custos de investimento quando comparados aos sistemas sobre trilhos, embora tenham menor vida útil, e são flexíveis a pequenas alterações de demandas. Além disso, utilizam tecnologia veicular consolidada no país, onde há parque industrial amplo e experiência acumulada para operação e manutenção. Podem ser organizados em três diferentes níveis de prioridade: Faixa Exclusiva, Corredor Central e BRT.
Move BH - foto: Mariana Gil
SISTEMAS DE TPC SOBRE TRILHOS
Os sistemas sobre trilhos de alta capacidade (Trem Urbano, Metrô e Monotrilho) configuram sistemas estruturais de transporte coletivo para cidades de grande porte, aglomerados urbanos e regiões metropolitanas. Exigem altos investimentos de implantação sendo, portanto, justificáveis para demandas elevadas, superiores a 25 mil passageiros/hora/sentido.
Esses sistemas promovem relevantes benefícios econômicos, sociais e de imagem para a cidade, além de oferecer capacidade de transporte que permite reduzir os fluxos de veículos no sistema viário e os tempos de viagem para os usuários.
Por utilizarem, em sua maioria, a eletricidade como fonte de energia, as emissões de poluentes locais são inexistentes e as de gases de efeito estufa são menores do que as soluções baseadas em motores de combustão interna (considerando o ciclo de vida da fonte energética). Sua vida útil é também muito superior a dos sistemas sobre pneus, podendo chegar com facilidade a 30 anos ou mais.
No aspecto operacional, destaca-se o alto padrão de confiabilidade, com frequências uniformes, e a facilidade de compreensão (inteligibilidade da rede e da operação) e de uso.
O VLT é um caso distinto. Implantado em superfície com veículos de tração elétrica, ele pode operar de forma segregada ou compartilhando espaços viários com o tráfego geral. É a tecnologia de menor capacidade no espectro metroferroviário, de no máximo 13 mil passageiros/hora/sentido, equivalente aos sistemas de ônibus com menor nível de priorização.
Trem urbano, Porto Alegre(RS) - foto: Trensur.
OUTROS SISTEMAS DE TPC
Teleférico
Embora normalmente adotado como transporte turístico, recentemente o Teleférico está sendo utilizado para transporte de passageiros como uma alternativa de solução de mobilidade vertical. É adequado para o transporte de passageiros em áreas com alguma densidade ocupacional e topografia acentuada. Tem baixa capacidade de transporte e sua implantação requer pouca desapropriação.
Teleférico Complexo do Alemão, Rio de Janeiro (RJ) - foto: divulgação.
Barcas
Os sistemas para transporte hidroviário urbano de passageiros habitualmente são planejados para se integrarem com modos de transporte terrestres. Podem ser utilizadas na travessia de baías, oferecendo ligações alternativas à solução por via terrestre. Podem ser usados também em locais onde há restrições e dificuldades para a circulação por modos terrestres, em especial de travessias de grandes massas de água, e nas quais o uso de barcos é regular e bastante tradicional no dia-a-dia da população.
Aeromóvel
Tecnologia nacional, desenvolvida no Rio Grande do Sul, que opera em uma via elevada, com propulsão pneumática não embarcada e sem a presença de condutor.
Tem como vantagens as dimensões mais reduzidas da infraestrutura da via e a possibilidade de vencer aclives de até 12% e curvas com raios menores do que 25 metros.
Dada a inexistência de sistema operando como transporte de massa, ainda não se pode quantificar com segurança a capacidade desta tecnologia. Ele pode ser classificado na categoria dos people movers, de baixa capacidade.
Aeromóvel, Porto Alegre (RS) - foto: Luiz Soa.
O conteúdo deste texto foi extraído e adaptado da publicação Guia TPC – Orientações para seleção de tecnologias e implementação de projetos de transporte público coletivo, publicado em parceria pelo Ministério das Cidades, pelo BNDES e pelo KfW, Banco Alemão de Desenvolvimento.
Conteúdos relacionados
Demanda por investimentos em mobilidade urbana no Brasil
Visão 2035 - Mobilidade Urbana (versão preliminar)
Chamada Pública BNDES/FEP Prospecção nº 01/2013 - Mobilidade urbana em Florianópolis