A necessidade de modernização da infraestrutura nos EUA | Marca-texto
Foto: Wikimedia. Rob Nguyen.
Quando o assunto é a necessidade de modernização da infraestrutura, há semelhança de objetivos entre Estados Unidos da América (EUA) e Brasil. Em ambos, existe o diagnóstico de que os investimentos totais no setor precisam sair de níveis entre 2% e 2,5% do produto interno bruto (PIB) para cerca de 5%.
No índice de 2015-2016 sobre a qualidade da infraestrutura do World Economic Forum (WEF), os EUA aparecem apenas na 13ª posição. Sem dúvida, é uma colocação muitíssimo superior à do Brasil, que amargou a 123ª posição. Porém, entre as economias desenvolvidas, vemos que os EUA ficaram atrás de diversos países, tais como, Suíça (primeiro no ranking global), Japão (sétimo) e Alemanha (11º).
Os relatos de problemas na infraestrutura dos EUA são diversos, sobretudo no segmento de transporte. De acordo com The American Society of Civil Engineers, um quarto das pontes no país está estruturalmente deficiente ou obsoleta. São recorrentes casos de pontes que colapsaram causando danos e mortes, tal como ocorrido em Seattle, em 2013.
A exemplo de Nova Iorque, o sistema metroviário de várias cidades precisa passar por um processo de modernização (retrofit). O sistema ferroviário encontra-se estacionado, do ponto de vista tecnológico, e também houve acidentes graves nos últimos anos.
A infraestrutura é, sem dúvida, uma grande prioridade dos EUA para melhorar a competitividade do país. No levantamento de competitividade dos países do WEF para o período de 2016-2017, os EUA ocupam a terceira posição no Índice Global de Competitividade, mas apenas a 12ª posição no ranking de qualidade da infraestrutura em geral, como mostra o Gráfico 1.
Entre os indicadores de situação da infraestrutura, as piores colocações do país são em qualidade das rodovias e da malha ferroviária. Em ambas, os EUA estão em 13º no ranking global.
The American Society of Civil Engineers (ASCE, 2016) estima uma diferença acumulada de US$ 1,3 trilhão entre as necessidades de investimento em infraestrutura e a disponibilidade projetada de funding, entre 2016 e 2025, nos setores de transporte de superfície, aeroportos, hidrovias e portos e saneamento. Em termos anuais, as necessidades de funding total e em transporte de superfície são de US$ 126 bilhões e US$ 110 bilhões, respectivamente.
A maior carência projetada de funding (US$ 1,1 trilhão) é em transporte de superfície, que engloba rodovias e mobilidade urbana. Muitas rodovias interestaduais estão com a capacidade saturada, aumentando os atrasos e a poluição do ar e gerando externalidades negativas para a atividade econômica. O sistema de rodovias interestaduais foi concebido em 1956, quando a população do país era inferior a 170 milhões, e visava acomodar vinte anos de crescimento do tráfego.
Desde então, a expansão da malha rodoviária foi de 30%, ao passo que a população do país aumentou 70%. Um indicador em estado crítico é o da situação das pontes. Em 2013, 4,3% das pontes urbanas dos EUA foram consideradas obsoletas, sendo 10,5% classificadas como estruturalmente deficientes e 13,8% como funcionalmente obsoletas.
No caso do sistema ferroviário, modal mais eficiente que o rodoviário para transporte de cargas a grandes distâncias, há também a necessidade de substanciais investimentos na modernização da malha ferroviária americana.
Nos últimos anos, houve redução da participação desse modal na matriz de transporte. Em 2008, foi responsável por 42% do transporte de cargas, medido em TKU (toneladas transportadas por quilômetro útil), caindo para 37%, em 2012, e 32%, em 2014.
Quanto ao transporte de passageiros, o sistema americano precisa de investimentos imediatos por questões de segurança. Os acidentes ocorridos na Filadélfia, em 2016, e em Connecticut, em 2014, com 76 pessoas feridas, indicam a necessidade de um retrofit nos principais corredores de transporte de passageiros, como o nordeste, Washington-Nova Iorque-Boston.
Melhorias incrementais têm sido realizadas, a exemplo do corredor Pennsylvania’s Keystone, no qual um investimento de US$ 145 milhões promoveu a elevação da velocidade média de 90 milhas por hora (mph) para 110 mph. Em contraste, os trens de alta velocidade (TAV) superam a média de 150 mph, segundo o estudo Rail Transportation in the United States, de Rosabeth Moss Kanter e Matthew Guilford.
Cabe apontar que inexistem TAVs nos EUA, ao passo que a China conta, em 2016, com 20 mil km de linhas desses trens em operação. Outros países que dispõem de TAVs são França, Itália, Turquia, Marrocos e Espanha. Estudo da Amtrack estima serem necessários US$ 151 bilhões em investimentos para transformar o corredor nordeste dos EUA em um sistema de alta velocidade.
Em portos, há necessidade de aumentar a eficiência e a escala do setor. Os oito maiores portos americanos somados (incluindo Los Angeles, Nova Iorque, Long Beach e Oakland) operam um volume de carga equivalente ao do maior porto da China, o de Xangai, que movimenta anualmente 31,7 milhões de TEUs (unidade equivalente a vinte pés). Cabe ressaltar que nenhum porto americano se encontra entre os dez maiores do mundo em movimentação de contêineres.
Todavia, nos portos comerciais americanos transitam cerca de 2,3 bilhões de toneladas de carga ao ano, incluindo produtos agrícolas, manufaturados, granéis líquidos e petróleo. A contribuição dessas atividades é estimada em US$ 3,1 trilhões, sendo que aproximadamente 80% do volume do comércio internacional passa pelos portos americanos.
Os recursos necessários à modernização do sistema aeroportuário americano são estimados em US$ 157 bilhões, no período 2016-2025, equivalente a US$ 16 bilhões/ano. A maior parte dos investimentos seria destinada a atender ao crescimento da demanda de cargas e passageiros. A Airport Council International – North America projeta elevação do número de passageiros transportados de 756 milhões, em 2014, para um bilhão, em 2029.
Os demais investimentos seriam voltados à modernização da infraestrutura existente, incluindo terminais de passageiros; equipamentos e instalações de controle aéreo; e pistas e pátios para aeronaves.
Embora os EUA estejam na quinta posição no ranking da competitividade global de infraestrutura aérea, o melhor aeroporto do país é o de Denver, que ocupa apenas a 15ª posição no ranking dos mais eficientes do mundo. O mais novo aeroporto tem mais de vinte anos.
Para se ter uma ideia da necessidade de modernização dos aeroportos, vale lembrar que eles foram concebidos quando o tempo de permanência por passageiro no embarque era de cerca de trinta minutos, ao passo que, atualmente, chega a ser de duas horas. Quanto aos atrasos nos voos, o indicador observado chega a 56 minutos, o dobro da média europeia, demandando a ampliação das áreas de entretenimento para passageiros.
Esse é um trecho do Texto para Discussão A infraestrutura de transporte nos Estados Unidos: em busca de funding, dos autores Fernando Pimentel Puga e Nelson Fontes Siffert Filho, empregados do BNDES.
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