A economia da cultura e o patrimônio como âncora do desenvolvimento
Theatro Municipal do Rio de Janeiro e Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Centro do Rio de Janeiro.
Foto: André Telles.
A Economia da Cultura é uma terminologia disseminada a partir da década de 90 que procura dar luz à contribuição econômica dos setores ligados à cultura, especialmente na geração de renda e emprego. Acostumados a terem seu valor reconhecido pelo ponto de vista simbólico, de identidade e educativo, os segmentos que compõem o setor da cultura, por tradicionalmente não terem sido mapeados e “empacotados” de forma conjunta, sempre tiveram sua contribuição econômica desconhecida ou subestimada. O surgimento, portanto, da terminologia da Economia da Cultura contribuiu para essa mensuração, permitindo uma maior valorização dos segmentos culturais no âmbito das políticas públicas em diversos países. No Brasil, estima-se que a chamada Economia da Cultura represente 2,6% do PIB e cerca de 800 mil empregos formais (Firjan, 2015).
No campo do Patrimônio Cultural, esse valor pode ser mensurado pela contribuição dos profissionais que atuam no setor, pelos equipamentos culturais, museus e monumentos, nas suas coleções, na produção artística e na cadeia de fornecedores, sem mencionar seus efeitos indiretos sobre o desenvolvimento local, o turismo, o comércio etc.
A adoção do conceito de Economia da Cultura pressupõe ampliar a visão da preservação do patrimônio como um fim em si para o enfoque sobre o desenvolvimento gerado a partir da ação de preservação e às externalidades potenciais que podem ser daí geradas.
O objetivo passa a ser, mais do que apenas recuperar o patrimônio, estimular e facilitar o usufruto do bem restaurado e promover sua melhor utilização pela sociedade, mas principalmente usá-lo como promotor de maior dinamismo econômico local, tornando-o uma âncora para o desenvolvimento institucional, econômico, turístico e urbano da localidade onde se encontra.
Para isso, deve-se buscar associar as ações de revitalização urbana aos investimentos complementares, que visem à recuperação do entorno, e às iniciativas voltadas para o estímulo às atividades econômicas derivadas do patrimônio, como por exemplo, o artesanato cultural ou atividades culturais correlatas. Pode-se considerar ainda ações relativas à preservação do patrimônio num conceito mais amplo como, por exemplo, ações de educação patrimonial e capacitação de mão de obra local.
Em função da complexidade das técnicas de restauro e da especialização necessária para esse ofício, há carência de profissionais na área. Assim, apoiar de forma efetiva o patrimônio histórico passa também por estimular a formação desses profissionais, preferencialmente em situações reais de obra. As iniciativas de educação patrimonial, porém, têm um caráter muito mais amplo do que a obra em si, buscando levar a comunidade a um processo ativo de apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-a para um melhor usufruto dos bens patrimoniais. Projetos culturais associados têm também um papel relevante na divulgação do patrimônio, podendo envolver a documentação dos trabalhos realizados, o resgate de informações, a difusão de saberes ou mesmo a disseminação da cultura em todas as suas formas.
A preservação do patrimônio, para além de sua finalidade original, passa a representar um elemento de construção de externalidades culturais, educacionais, sociais, simbólicas e econômicas que dignifiquem e dêem concretude à ação do patrimônio. Tal entendimento, além de refletir a vivência do BNDES, vem permeando a política da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em nível internacional e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em nível nacional, onde se estabelece o patrimônio como vetor do desenvolvimento em si, no seu sentido mais amplo.
Texto elaborado a partir do artigo “Financiamento às Instituições Culturais sob a ótica da Sustentabilidade de Longo Prazo: o BNDES na Preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro”, de autoria de Luciane Gorgulho, publicado na Revista do Patrimônio nº 36 do Iphan.
Saiba mais:
Projetos de patrimônio histórico apoiados pelo BNDES em todo o país
Mapa do patrimônio cultural do Centro do Rio de Janeiro
Livro Preservação do patrimônio cultural brasileiro (publicado em 2016)