Relato integrado: quais as vantagens? | Entrevista
Nova tendência no âmbito dos relatos corporativos, o relato integrado foi criado pelo International Integrate Reporting Council (IIRC), uma aliança internacional de reguladores, investidores, empresas, organismos de normalização, profissionais de contabilidade e ONGs. Partindo do entendimento de que a comunicação sobre a criação de valor é o próximo passo na evolução dos relatórios corporativos, o IIRC lançou seu primeiro framework em 2013 e conta com a adesão de uma lista extensa de empresas em todos os continentes.
Conversamos por e-mail com Richard Howitt, CEO do IIRC, que está no Brasil nesta semana, e Vania Borgerth, coordenadora da Comissão Brasileira de Acompanhamento do Relato Integrado, para entender melhor os benefícios dessa nova forma de relatar.
Como você descreveria o relato integrado e suas principais vantagens? [1]
Richard Howitt: O relato integrado é uma abordagem nova, mais concisa e adequada às empresas na elaboração de relatórios corporativos. Não se trata apenas de elaborar os relatórios, mas de aprimorar o sistema de comunicação corporativo existente. Ele possibilita que a empresa use seus relatórios para incentivar a criação de valor em longo prazo para o próprio negócio, considerando o mundo interconectado e multicapital do qual as empresas hoje fazem parte.
Também não é apenas sobre relatos, mas uma mudança de mentalidade em relação à estratégia de negócios. Relatos integrados são uma mudança radical no modelo de negócio fragmentado e baseado em silos. Eles estabelecem a ligação indispensável com o comportamento corporativo e a alocação de capital por meio daquilo que chamamos “pensamento integrado”.
Isso vem ajudando as empresas a pensar holisticamente sobre suas estratégia e seus planos, a tomar decisões ponderadas e a gerenciar os principais riscos para construir a confiança do investidor e dos acionistas, além de criar valor e melhorar o desempenho futuro.
Para a economia em geral, o relato integrado sustenta a estabilidade financeira, restaurando a confiança nos negócios e atingindo o desenvolvimento sustentável. Cada vez mais as empresas estão descobrindo que o relato integrado oferece uma compensação vital à influência da instabilidade financeira, da sobrecarga de informações e da visão de curto prazo na tomada de decisões do mercado de capitais que atingiu os mercados financeiros globais nos últimos anos.
O relato integrado foi desenvolvido por uma ampla coligação global de empresas, investidores e órgãos reguladores como solução para os desafios enfrentados. Mais de 1.500 empresas já adotaram esse modelo.
Em pesquisa do International Integrated Reporting Council (Conselho Internacional para Relato Integrado – IIRC, na sigla em inglês), organizações que já estão avançando no desenvolvimento de relatos integrados registraram uma série de vantagens:
* Mudança no diálogo entre diretoria e gerência;
* Maior compreensão do benefício da criação de valor;
* Mudança e melhoria do que está sendo mensurado;
* Melhoria nas informações de gestão e nas tomadas de decisão;
* Impactos positivos nas relações com os acionistas;
* Maior colaboração dentro das equipes, conectando departamentos e ampliando perspectivas;
* Tomada de decisões mais embasada.
Acesse o banco de dados de relatos integrados do IIRC.
O framework do relato integrado é relativamente novo. Como você acha que irá evoluir nos próximos anos? As melhorias já podem ser notadas? [2]
RH: Faz apenas três anos que o framework do relato integrado foi lançado. Portanto, é incrível que mais de 1.500 empresas ao redor do mundo já tenham adotado o relato integrado. É uma prova do aspecto genuinamente consultivo e orientado para o mercado da estrutura desenvolvida, significando que teve a adesão dos participantes do mercado desde o início.
Como muitas empresas ainda estão incorporando a ideia do pensamento e do relato integrado como parte de suas normas corporativas, ainda não é a hora certa de alterar a estrutura.
Dito isto, no dia 1º de março de 2017, durante sessenta dias abrimos um espaço global destinado a ouvir comentários para aprender com as empresas que implementaram ou pensam em adotar o relato integrado.
Estamos estimulando o feedback público sobre os incentivos e barreiras decisivos para aplicar a estrutura do relato integrado.
Isso pode levar o IIRC a lançar novas orientações ou notas técnicas práticas, se forem identificadas dificuldades de compreensão ou implementação no feedback que recebermos. Você pode obter mais informações em www.integratedreporting.org/invitation-to-comment. Convido todas as partes interessadas a se envolverem nesse processo e dar seu feedback.
Estamos muito orgulhosos de ter lançado recentemente nosso Programa de Treinamento com parceiros do mundo todo, inclusive no Brasil. O programa visa habilitar indivíduos e organizações para evoluir no pensamento e relato integrados. Mais informações podem ser encontradas em http://integratedreporting.org/resource/ir-training/ .
Existem muitas outras maneiras de se envolver com relatos integrados.
As empresas no Brasil podem aderir à rede do relato integrado estabelecida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Relatores em estágio mais avançado que queiram aprender e promover relatos integrados com outras empresas globais podem participar da rede de negócios internacionais do IIRC. Eles também podem se conectar a redes especializadas de bancos, investidores, empresas de tecnologia e organizações do setor público. A pesquisa sobre relatos integrados é apoiada pela rede acadêmica do IIRC.
Basicamente, relatos integrados propiciam empresas melhores em um mundo melhor. Se qualquer indivíduo ou organização compartilha dessa visão para uma abordagem mais ampla e de longo prazo para o negócio, torna-se um “defensor” dos relatos integrados em sua empresa, organização ou país.
Juntos tornaremos o relato integrado a norma padrão global.
Qual a diferença entre relato integrado e relatório integrado?
Vania Borgerth: "Relato" está relacionado ao processo de reportar, enquanto "relatório" está relacionado ao produto final dessa atividade. O relato integrado trata exatamente do processo, considerando que, se a integração não estiver presente no processo, o relatório final será apenas uma "colcha de retalhos", com informações sendo apresentadas de forma combinada, mas sem qualquer relação entre elas.
Qual a importância do relato integrado? Ele substituiu outros relatos?
VB: Conforme resposta anterior, o relato integrado não é mais um relatório ou o substituto dos relatórios que a empresa já prepara, mas uma metodologia para tratar do processo de elaborar a informação a ser transmitida, dando ênfase tanto à informação chamada "não financeira" (responsabilidade social, governança, meio ambiente etc.) quanto à "financeira". Se a empresa faz relatório de sustentabilidade sob o GRI ou qualquer outro padrão, pode continuar a fazê-lo; da mesma forma, se utiliza o IFRS ou USGAAP para a parte financeira, também pode continuar a fazê-lo. O que o relato integrado pretende é que os dois blocos estejam integrados. Ou seja, não terá uma informação na demonstração contábil que esteja em contradição com o apresentado no relatório de sustentabilidade (só como um exemplo).
A adoção do relato integrado traz impactos positivos para empresa também. Quais benefícios o relato integrado traz para quem relata?
VB: Uma das propostas do relato integrado para promover a integração é eliminar o que se conhece como "silos". Quando existem silos, cada parte de um relatório está sob a responsabilidade de uma unidade que não necessariamente se comunica ou entende a informação gerada por outra. Com isso, os relatórios acabam se parecendo com um trabalho de colagem, sem uma linha básica.
Com o relato integrado, a comunicação melhora tanto dentro quanto fora da empresa, pois a geração do relatório deixa de ser um trabalho isolado, de uma ou mais pessoas, e passa a ser um trabalho conjunto, em que cada parte é discutida internamente, garantindo que a informação gerada para o público externo represente a opinião da empresa e não apenas a posição de quem redigiu a informação.
Quando a comunicação melhora, os objetivos da empresa são mais bem compreendidos e abraçados tanto por aqueles que decidem quanto pelos que executam e, ainda, por aqueles que são afetados por esses objetivos.
O modelo de valor está no centro desse relato, correto? Como esse modelo de valor é pensado no relato integrado?
VB: Correto. Uma das bases do relato integrado é que o relatório corporativo deve ser conciso. No mundo de hoje, ninguém tem muito tempo disponível para ler relatórios extensos. Mesmo porque grandes relatórios não necessariamente garantem "mais informação" e podem até desviar a atenção do que é realmente importante.
Logo, se a empresa não deve publicar tudo o que aconteceu, o critério a ser utilizado para definir o que deve ser publicado é o conceito de que o que o mercado precisa saber é o que efetivamente gera valor para a empresa.
Como o relato integrado é um modelo principiológico, cada empresa precisa estabelecer seu modelo de negócio, definindo o que ela considera importante para gerar valor para o negócio.
Processo de criação de valor. Fonte: IIRC.
No Brasil ele já vem sendo usado? Ele é obrigatório?
VB: O relato integrado vem sendo utilizado não apenas no Brasil, mas no mundo. Para muitos, ele é um "caminho sem volta". Porém, como ele mexe com o processo (cultura) muito mais do que com o relatório, a questão da adesão é um pouco mais sensível. Ninguém consegue mudar a cultura de uma organização com o apertar de um botão, logo, ainda não podemos dizer que alguma empresa já produz relatórios perfeitamente integrados. Por enquanto, ele não é mandatório. No entanto, como os principais reguladores do mundo são parte da iniciativa do relato integrado, existe uma grande possibilidade de que ele venha a ser mandatório no futuro.
Empresas de todos os portes são beneficiadas por sua adoção?
VB: Sim. O relato integrado foi pensado para ser aplicável por empresas grandes e pequenas igualmente. Para garantir essa especificidade, na fase de "programa piloto", foi dada fundamental importância à participação de pequenas empresas.
O relato integrado é auditado?
VB: Ainda não existe uma "norma" de auditoria de relato integrado. Por isso, atualmente, empresas de auditoria e/ou consultorias especializadas dão conforto do tipo negative assurance para relatórios de sustentabilidade. Isso significa que a entidade asseguradora está atestando que, no processo de sua análise, “não encontrou nada que venha a desabonar a informação fornecida".
O regulador internacional, no entanto, está preparando uma norma de auditoria de relato integrado. No futuro, então, os auditores poderão emitir opinião sobre o relato integrado com o mesmo nível de rigor hoje verificado para os relatórios contábeis.
Baixe o framework do relato integrado (pdf).
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Relato integrado: visita do CEO do IIRC, Richard Howitt, ao Brasil
Leia respostas do Richard Howitt em inglês:
[1] How would you describe integrated reporting and its main benefits?
Richard Howitt: Integrated reporting is a new, more concise, more business-friendly approach to corporate reporting. It is not about more reporting - it is about reforming the existing corporate reporting system. It enables the company to use its reporting to promote long-term value creation for the company itself, addressing the inter-connected, multi-capital world in which business today operates.
It is also not just about the reporting but about a change in mindset in businesses strategy. Integrated reporting is a shift away from the fragmented, silo-based approach to the business. It makes the vital link to corporate behaviour and capital allocation through what we have called 'integrated thinking'.
This is helping businesses to think holistically about their strategy and plans, make informed decisions and manage key risks to build investor and stakeholder confidence, value creation and improve future performance.
For the economy as a whole, integrated reporting underpins financial stability, restoring trust in business and achieving sustainable development. Businesses are finding that Integrated reporting is a vital counterbalance to the forces of financial instability, information overload and short-termism in capital market decision-making that have gripped global financial markets in recent times.
Integrated Reporting was developed by a broad global coalition of businesses, investors and regulators as a solution to challenges they faced. Already over 1,500 businesses have adopted it.
Research by the IIRC of organizations who are already advancing their journey towards <IR> stated a number of key benefits:
· A change in conversations between the board and management
· An increased understanding of the benefit of value creation
· Changing and improving what is measured
· Improving management information and decision making
· Positive impacts on stakeholder relations
· Greater collaboration within their teams; connecting departments and broadening perspectives
· More informed decision-making.
[2] The framework is relatively new. How do you expect it to evolve in the next couple of years? Are there already improvements you can see coming?
RH: It’s only been three years since the International <IR> Framework was released so the fact that over 1,500 companies around the world have already adopted integrated reporting is incredible. Its a testament to the genuinely consultative and market-led way that the framework was developed, meaning it had buy-in from market participants from the start.
As many businesses are still on a journey towards embedding integrated reporting and thinking as part of their business norm, we don't think the time has come to modify the Framework just yet.
That said, on 1 March 2017 we launched a global, sixty day comment period aimed at listening to and learning from the companies who have implemented or may have considered adopting integrated reporting.
We’re inviting public feedback on critical incentives and barriers to applying the integrated reporting <IR> Framework.
It could lead to IIRC issuing new guidance or technical practice notes, if we identify particular difficulties of understanding or implementation from the feedback which we receive.
You can find out more at www.integratedreporting.org/invitation-to-comment and I urge all stakeholders to engage with this process and provide your feedback.
We're also proud to have recently launched our Training Programme with a selection of partners around the world, including in Brazil. The programme aims to give individuals and organisations the skills they need to progress on their journey towards integrated reporting and thinking, and more information can be found here: http://integratedreporting.org/resource/ir-training/
There are many other ways to get involved with integrated reporting.
Businesses in Brazil can join the integrated reporting network established by the national development bank, BNDES. More advanced reporters who want to learn and advocate integrated reporting alongside other global businesses are invited to join the IIRC international business network. There is also a chance to join specialist networks for banks, investors, technology companies and public sector organisations. Research on integrated reporting is supported by the IIRC academic network.
Ultimately, integrated reporting is for better business in a better world. If any individual or organisation shares this vision for a broader, long-term approach to business, become an integrated reporting 'champion' in your company, organisation and country.
Together we will make integrated reporting the global norm.