Produtividade do trabalho
Artigo escrito por João Marco Braga da Cunha, economista do Departamento de Pesquisa do BNDES, e publicado no Diário Comércio, Indústria & Serviços (DCI) em 05.01.2018
A produtividade sempre foi um dos temas centrais da literatura econômica. Uma frase cirúrgica do ganhador do Prêmio Nobel, Paul Krugman, explica a sua importância: “A produtividade não é tudo, mas, no longo prazo, é quase tudo. A capacidade de um país para melhorar o seu nível de vida ao longo do tempo depende quase inteiramente da sua capacidade de aumentar a sua produção por trabalhador”.
No Brasil, a questão da produtividade tornou-se central após mais de três décadas de estagnação do produto por trabalhador, segundo dados do The Conference Board. Durante esse período, países como Turquia e Chile, que, inicialmente, estavam em um patamar semelhante ao nosso, dobraram a sua produtividade do trabalho, enquanto a China decu-plicou-a, alcançando-nos.
O fato é que a situação exige uma correção de rumo.
Uma ampla produção bibliográfica aponta fatores — de natureza institucional, econômica, sociológica e geográfica, entre outras — que influenciam a produtividade do trabalho e explicam os diferentes níveis atingidos pelos países.
A grande maioria desses fatores somente são passíveis de serem alterados ou de gerarem efeitos no longo prazo. Dada a urgência do quadro brasileiro, uma pergunta torna-se pertinente: não haveria algo a ser feito afim de reduzir o atraso já no curto prazo?
Essa é a questão abordada em recente estudo realizado pelo Departamento de Pesquisa Econômica do BNDES. No trabalho “Determinantes de curto prazo da produtividade dos países: o que os dados têm a nos dizer?”, são selecionados, entre quase uma centena de indicadores que compõem o índice Global de Competitividade, aqueles que melhor explicam a variação da produtividade no ano seguinte, para um conjunto de 108 países ao longo de uma década.
O modelo obtido é composto por cinco indicadores: prazo para a abertura de negócios; capacidade total de transporte aéreo de passageiros; amplitude de participação nas cadeias de valor; número de casos de tuberculose; e assinaturas de internet banda larga fixa (os dois últimos como proporção da população).
Infelizmente, o Brasil não ocupa uma das melhores posições em nenhum desses indicadores quando comparado a um grupo de países pares (África do Sul, Argentina, Chile, China, México e Turquia). Um caso emblemático é o do prazo para abertura de negócio: o tempo necessário no Brasil é superior à soma dos seis países pares relacionados.
A metade cheia do copo é que há um grande espaço para melhoria. Segundo o estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES, caso o Brasil consiga atingir o nível atual dos pares que ocupam as primeiras posições nos cinco indicadores, o impacto sobre a produtividade será da ordem de 10%.
Para alcançar tal objetivo, é necessário aumentar o investimento em infraestrutura e inovação, reduzir a burocracia e melhorar a regulação e as condições de saúde.
O estudo reconhece a margem para avanços no curto prazo, mas reitera a questão crucial: por serem predominantes na determinação da produtividade, os fatores de longo prazo devem receber atenção e esforços ainda maiores.