Famílias no semiárido brasileiro conseguem superar dificuldades impostas pela seca com o uso de tecnologias sociais
Publicado em 02.08.2017
Com o apoio do BNDES, foi possível instalar cisternas de produção e casas de sementes - minimizando os impactos do clima seco da região.
Graças ao uso de tecnologias sociais, mais de 93 mil pessoas que vivem no semiárido brasileiro atualmente têm água para consumir e plantar - superando as dificuldades impostas pela seca. Margarida República foi uma delas.

Margarida nasceu na comunidade de Cipoal (Umirim/CE), na casa construída pelo pai ainda no final do século XIX. Na propriedade onde vive com o irmão, a cunhada e o sobrinho, ela conta que a família dependia da água de um açude próximo, e nos períodos de seca mais intensa não era suficiente para atender às suas necessidades e ainda sustentar os cultivos agrícolas e a criação de bodes e de gado. O irmão Domingos conta: “muitas vezes, o jeito era recorrer a caminhões-pipa, que vinham da cidade de Tururu/CE, para abastecer o açude”.
Desde o ano de 2013, essa região vem sendo afetada por uma grande seca – a pior em 100 anos até então – o que levou o Governo Federal a mobilizar esforços para minimizar os impactos da carência de água para a população. “O grande problema da seca de 2013 é que ela dizimou muitos rebanhos, o que fez com que o Banco reconhecesse nas cisternas produtivas (de 2ª água) uma oportunidade de atuar na região”, explicou Marcos Cavalcante, do Departamento de Inclusão Produtiva da Área de Gestão Pública e Socioambiental do BNDES.
O semiárido, em momentos de grandes estiagens, sempre foi marcado por episódios de aumento na taxa de mortalidade, saques a estabelecimentos comerciais, convulsão social, dizimação dos rebanhos de bovinos, caprinos e a forte migração para o sul do país.
Seguindo as diretrizes do BNDES Fundo Social, que em 2017 completa 20 anos, o Banco já apoiou com mais de R$ 256 milhões o projeto de instalação das cisternas de 2ª água, voltadas para o uso na produção agrícola e na criação de animais.
Além disso, investiu também em outra tecnologia social que vem contribuindo para a diversidade da produção agrícola das comunidades do semiárido - a Casa de Sementes. Objeto de um subcrédito no valor de R$ 6 milhões de uma das operações, a reforma ou construção dos bancos comunitários de sementes complementa o projeto das cisternas, garantindo a preservação e propagação dos principais insumos para produção.
Hoje, a realidade da família da Dona Margarida e de várias outras do semiárido brasileiro mudou. Com a cisterna de 1ª água, construída em 2004, e a de 2ª água, instalada em 2014, no âmbito do projeto apoiado pelo BNDES. A água do açude ainda é utilizada quando ele está cheio, mas é a cisterna produtiva, de 52 mil litros, que garante a produção do quintal – que inclui feijão, mandioca, milho, chuchu, coentro, cebola, dentre outros itens.
Antônio Barbosa, coordenador dos programas "Uma Terra e Duas Águas" e "Sementes do Semiárido" da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), uma rede formada por cerca de três mil organizações, que atuam na gestão e no desenvolvimento de políticas em toda região, esclarece que a água da cisterna é percebida pelas famílias como uma moeda de maior valor, por isso ela só é usada quando as outras fontes se esgotam.
A imprevisibilidade do período de chuvas no semiárido reforça ainda mais a importância das reservas. “Antigamente o inverno sempre ia de janeiro até junho. Hoje já começa em março às vezes, mas isso depende do momento”, diz Maria de Fátima Barbosa, moradora da comunidade de Riacho das Pedras (Tejuçuoca/CE). Ela vive com o marido, Antônio Evaldo, com quem teve três filhas, e mostra com orgulho o seu quintal produtivo. O casal ajuda a cuidar também de uma estufa de cactos, que é administrada de forma comunitária e complementa a renda da família.

Desde 2014, a família tem uma cisterna do tipo enxurrada, que utiliza os caminhos naturais de escoamento da água da chuva para fazer a captação. O modelo tem a vantagem de aproveitar os nutrientes do solo, absorvidos pela água ao escoar para a cisterna, o que contribui para seu uso na produção agrícola. (foto)
Diante dos resultados do projeto, o BNDES analisa a possibilidade de dar continuidade à iniciativa, ampliando o número de cisternas produtivas no semiárido. A quantidade de cisternas de 1ª água (para consumo humano) construídas na região é muito superior à de 2ª água, ou seja, há bastante espaço para expansão desse projeto que vem garantindo a inúmeras famílias continuar colhendo os “frutos” do seu trabalho.]
O outro tipo de estrutura de captação para as cisternas de 2ª água é chamado de “calçadão”. Um retângulo de concreto de 200 m2 recebe a água da chuva e canaliza para a cisterna.
Valdênia da Costa, da comunidade de Caraúbas (Umirim/CE), é uma das beneficiadas por esse modelo. Ela brinca que, depois da construção, os filhos logo viram no “calçadão” um campo de futebol e uma pista de skate. Mas ela mantém a estrutura limpa e desocupada, pois sabe da sua importância para o sustento da família.
Assista ao depoimento de Valdênia e de sua mãe, Maria Oliveira:
O BNDES também apoia outras tecnologias sociais, como:
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