Economia Criativa
O RioContentMarket, evento de negócios do setor audiovisual que conta com o patrocínio do BNDES desde 2011, passa a fazer parte este ano do RIO2C – Rio Creative Conference e amplia o escopo de suas atividades para os segmentos de música e inovação.
O evento, que ocorre no período de 3 a 8 de abril, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro (RJ), é palco para o encontro de profissionais e demais interessados nos diferentes setores da “economia criativa”, uma área com relevante potencial de crescimento no Brasil, capaz de promover a geração de empregos de alta qualificação e favorecer a inclusão social.
Potencial da indústria criativa
As mudanças econômicas e tecnológicas das últimas décadas impulsionaram o deslocamento do foco de atividades industriais tradicionais para atividades intensivas em conhecimento, localizadas em setores de serviços dinâmicos, com maior capacidade de geração de trabalho qualificado e, muitas vezes, maior capacidade de geração de valor agregado. O forte avanço das indústrias criativas e culturais está relacionado com essas mudanças, notadamente nos países desenvolvidos de alta renda per capita.
A indústria criativa apresenta uma tendência futura de crescimento acima da taxa mundial, o que é ainda mais significativo no caso do Brasil, tendo em vista diferenciais do país como a dimensão de seu mercado doméstico, a criatividade para geração de novos produtos, conteúdos, serviços e soluções de elevada qualidade e uma notória riqueza cultural, um dos mais importantes insumos de seus produtos e serviços.
Segundo estudo da Firjan (PDF - 0,9 MB), as indústrias criativas e culturais do Brasil foram responsáveis por gerar R$ 155,6 bilhões em 2015, o que representou 2,64% do PIB brasileiro naquele ano. No mesmo ano, essas indústrias empregaram 851,2 mil pessoas, ou o equivalente a 1,8% do total de empregos formais no Brasil.
O que diferencia o setor
Apesar de suas especificidades, os setores culturais têm em comum um conjunto de atributos relacionados a sua estrutura de mercado, à estrutura de capital das empresas, aos custos de produção e reprodução dos bens e serviços ofertados e à função da demanda.
Polarização dos portes
De acordo com publicação da UNCTAD (PDF - 2,3 MB) - a polarização do porte das empresas é a principal característica organizacional dessa indústria. De um lado, há um restrito conjunto de grandes empresas que atuam internacionalmente e, não raro, de forma verticalizada. Do outro, há um enorme conjunto de micro, pequenas e médias empresas (MPME) com base nacional, desverticalizadas.
Essa configuração pode ser explicada, em parte, pela diferente natureza dos custos envolvidos na produção de bens e serviços culturais, que são em geral substanciais e irrecuperáveis, e dos custos relacionados a sua distribuição, que costumam ser marginais e desprezíveis, especialmente quando a difusão ocorre por meio digital.
Assim, os segmentos de distribuição tendem a ter poucas e grandes empresas que concorrem globalmente, enquanto os segmentos de produção, especialmente a independente, são mais centrados nas figuras dos artistas e profissionais criativos, sendo, portanto, formados majoritariamente por MPMEs.
Demanda variável e ciclo longo de produção
A incerteza sobre o comportamento da demanda e o longo ciclo de produção são também características inerentes às indústrias criativas. Produtos culturais são conhecidos por serem “bens de experiência”, cujo gosto do consumidor é moldado pela exposição (repetida) ao produto ou por meio de experiências de consumo passadas. Por outro lado, o ciclo de produção de muitas indústrias culturais é longo. Uma série animada ou um jogo digital, por exemplo, podem levar mais de três anos para serem produzidos, demandando elevado volume de recursos. Para contornar esse problema, as grandes empresas utilizam estratégias de mitigação, como a diversificação do portfólio.
Saiba mais nos infográficos a seguir:
Propriedade intelectual própria e serviços por encomenda
As empresas que atuam na fase de produção são intensivas em trabalho qualificado, e não em bens de capital. Os ativos gerados por elas são intangíveis e normalmente assumem a forma de propriedades intelectuais, como registros de obras audiovisuais, direitos de autor, direitos conexos etc.
Essas propriedades têm potencial de gerar receita durante um longo período para os seus detentores. Porém, é importante fazer a seguinte distinção sobre a natureza da atividade produtiva: existem os serviços sob encomenda e outsourcing, pelos quais as contratadas realizam (parcial ou totalmente) projetos idealizados por outras empresas; e existem os projetos autorais, que resultam em geração de propriedade intelectual própria.
No primeiro caso, a demanda é conhecida, bem como a remuneração resultante do serviço prestado, o que claramente reduz os riscos da atividade, mas também os seus ganhos. Já no segundo caso, os riscos da concepção e desenvolvimento recaem sobre as produtoras do conteúdo, mas os eventuais ganhos extraordinários também. Isso porque as oportunidades de exploração de propriedade intelectual de sucesso não podem ser desprezadas.
Em síntese, tais empresas necessitam de um prazo longo para reduzir impactos negativos das flutuações de mercado e construir um catálogo de obras que continuam a gerar receitas no longo prazo (cauda longa).
O conteúdo desse texto foi extraído e adaptado da versão preliminar do artigo Economia Criativa, de autoria de Diego Nyko e Patricia Zendron, parte da publicação Visão 2035: Brasil, país desenvolvido.
Conteúdos relacionados
[Infográfico] O papel das distribuidoras na cadeia produtiva do audiovisual
Dez curiosidades sobre o mercado de didáticos brasileiro
A economia da cultura e o patrimônio como âncora do desenvolvimento