Créditos livre e direcionado têm finalidades distintas, e não há substituição entre si, mostra estudo
Novo estudo publicado pelo BNDES mostra que, em média, o crédito direcionado no País apresenta prazos até cinco vezes maiores do que o crédito livre, além de taxas de juros regularmente menores e menos voláteis. A análise aponta ainda que não costuma haver substituição entre as duas modalidades, já que elas atendem a finalidades distintas.
As conclusões estão na oitava edição da série Estudos Especiais do BNDES, que dá continuidade à análise sobre o mercado de crédito iniciada no segundo número da publicação. Depois de esclarecer que nem todo crédito direcionado é subsidiado ou público, o trabalho se concentra em investigar as diferenças de prazos e taxas de juros entre concessões com recursos livres e direcionados, além de analisar a evolução da dinâmica das carteiras.
No período de 2012 a 2023, o estudo revela que o prazo médio das concessões de crédito com recursos direcionados passou de 136 para 209 meses, ao passo que nas operações de crédito livre houve aumento de 34 para 44 meses. Com prazos médios quase cinco vezes mais longos do que os das concessões com recursos livres, o crédito direcionado contribuiu para o aumento do prazo no total das concessões de crédito, que evoluiu de 79 para 120 meses no período.
A publicação mostra também que as operações com recursos direcionados apresentaram taxas mais baixas e de menor volatilidade do que as observadas no crédito livre. Em agosto de 2023, por exemplo, a taxa média de juros nas concessões direcionadas era de 11% ao ano (a.a.) e a do crédito livre de 43% a.a.
Segundo o estudo, essas diferenças têm relação com a própria natureza de cada modalidade de crédito. Os recursos direcionados estão vinculados normalmente a políticas públicas e ao desenvolvimento de segmentos específicos, como agropecuário e de habitação. Já o crédito livre está concentrado em linhas de menor risco, como capital de giro e manutenção.
A análise cita ainda estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) que, com base em uma amostra de operações de crédito de 380 mil firmas, no período de 2004 a 2017, evidenciou que há pouca competição entre os dois segmentos de crédito. O trabalho sugere que a taxa de juros é mais relevante para as decisões de contratação no crédito livre e que o prazo é mais importante no direcionado.
Outro ponto abordado no estudo foi a trajetória das carteiras de crédito livre e direcionado entre 2007 e 2023. O documento mostra que, depois de um aumento progressivo do crédito direcionado no intervalo de 2008 a 2017, em função da crise financeira internacional, essa modalidade vem perdendo espaço – chegando a 41% do saldo total em agosto de 2023. Nessa trajetória de redução, o crédito direcionado sofreu também mudanças em sua composição. O crédito habitacional teve ganho expressivo de participação – de 15%, em 2007, para 45%, em 2023 –, enquanto o BNDES teve seu peso reduzido de 49% para 20% do saldo total de crédito direcionado.
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